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Entendendo a Fissura Labiopalatina

Fissura Labiopalatina | Livia Scelza | Fonoaudióloga

A FISSURA LABIOPALATINA, também conhecido como LÁBIO LEPORINO é uma abertura na região do lábio ou palato, ocasionada pelo não fechamento dessas estruturas, que ocorre entre a quarta e a oitava semana de gestação.

 

É a mais frequente anomalia craniofacial.

 

Podem ocorrer isoladamente, sem outras malformações associadas - Fissuras Labiopalatinas e Palatinas Não-Sindrômicas - ou acompanhadas de uma ou mais alterações no indivíduo - Fissuras Labiopalatinas e Palatinas Sindrômicas.

 

As fissuras labiopalatinas e fissuras palatinas não sindrômicas estão entre as anomalias congênitas (presentes ao nascimento) mais comuns, correspondendo a cerca de 75% de todas as formas de fissura e a ocorrência no mundo é de uma a cada 1.000 crianças nascidas, e no Brasil, há referência de que a cada 650 crianças nascidas uma é portadora de fissura labiopalatina.

 

As fissuras não sindrômicas compreendem os casos em que somente a fissura orofacial está presente, sem associação a nenhuma síndrome ou malformações secundárias. Essas são as mais comuns.

 

A causa das fissuras não-sindrômicas é multifatorial, onde a ocorrência da má formação depende da interação entre fatores genéticos e ambientais.  Os fatores de risco ainda não estão claramente definidos, não havendo ainda nenhum teste genético para identificar quais os indivíduos em risco de virem a ter filhos com fissura não-sindrômica.  Assim como em outras doenças de causa multifatorial, os riscos de recorrência das fissuras não-sindrômicas são baseados em estimativas empíricas, ou seja, pela observação direta da recorrência da anomalia em diversas famílias.

 

A etiologia das malformações faciais ainda é desconhecida, no entanto, existem evidências que fatores genéticos e ambientais atuam em associação na origem das fissuras labiopalatinas.   Dentre os fatores ambientais mais citados destacam-se: doenças durante a gravidez, uso abusivo de drogas, uso de álcool ou cigarros, a realização de raios-x na região abdominal, idade dos pais, deficiência nutricional, medicamentos anticonvulsivantes ou corticóide durante o primeiro trimestre gestacional entre outras.

 

As fissuras labiopalatinas e fissuras palatinas sindrômicas são representadas por um grande número de síndromes que variam, principalmente, no tipo de anomalia associada à fissura.  Dentre as formas sindrômicas mais comuns estão a Síndrome de Van der Woude, a Síndrome Velocardiofacial, Síndrome de Apert e a Síndrome de Treacher Collins.

 

As fissuras labiais e labiopalatinas são mais frequentes no sexo masculino e as fissuras somente de palato ocorrem mais no sexo feminino.

 

A hereditariedade tem sido mencionada como o fator de maior importância no desenvolvimento de fissura, uma vez que vários genes estão relacionados com o desenvolvimento e fechamento do palato.

 

Esta influência hereditária é comprovada quando se observa que a incidência de fissuras cresce com a presença de familiares com esta alteração; nas seguintes proporções:

  • pais normais = 0,1% de chance de ter um filho fissurado

  • pais normais e um filho fissurado = 4,5% de chance de ter outro filho fissurado

  • um dos pais e um filho fissurado = 15% de chance de ter outro filho fissurado

 

As fissuras de lábio e de palato podem ocorrer isoladamente, associadas entre si ou mesmo em combinação com outras malformações, apresentando-se em diversos graus de severidade.

 

A classificação das fissuras labiopalatinas utilizada no Brasil é a formulada por Spina et al. (1972), que tem como referência anatômica o forame incisivo, limite entre o palato primário e o secundário.

Classificação da Fissura Labiopalatina
Classificação da Fissura Labiopalatina

 

O tratamento depende de uma equipe multidisciplinar, pois além de cirurgiões são necessários tratamentos ortodônticos, fonoaudiológicos e muitas vezes, acompanhamento psicológico.

 

O acompanhamento FONOAUDIOLÓGICO começa antes mesmo do nascimento com uma anamnese (uma conversa), verificando itens como antecedentes familiares obtendo informações sobre a presença de outros casos de fissuras e outras má formações e, através do acolhimento, orientar sobre amamentação, desenvolvimento da audição, linguagem, fala e alimentação.  Nessa ocasião o FONOAUDIÓLOGO esclarece toda as dúvidas que os pais possam ter, mostra fotografias de crianças com a mesma patologia, antes e depois das cirurgias.

 

Ainda na primeira consulta é importante que o fonoaudiólogo informe a família sobre todos os tratamentos que podem ser efetuados e tudo que pode ser feito pelo bebê, para que o nível de ansiedade familiar diminua, e desmistificar determinadas crenças populares.

 

O primeiro contato com o bebê fissurado se dá, se possível, ainda na maternidade para avaliação da estrutura orofacial e orientações sobre como deverá ser a amamentação do bebê.  O FONOAUDIÓLOGO é o profissional habilitado para passar as informações necessárias quanto à importância e os cuidados na amamentação e alimentação da criança, para que esta seja de forma segura, evitando broncoaspiração, refluxo nasal e otite.

 

A mãe tem que estar bem orientada na questão da amamentação que é extremamente importante nessa fase do bebê.

 

Dificuldades podem surgir, porém a oferta do leite materno é imprescindível por ser o alimento mais completo e adequado para o bebê.  Mesmo que o bebê não tenha condições de sugar o seio materno, o FONOAUDIÓLOGO pode orientar a ordenha para manutenção da produção láctea e determinar, junto com a mãe, o melhor utensílio de oferta do leite materno ordenhado.

 

A indicação da bandagem terapêutica para facilitação do vedamento labial, pode auxiliar a sucção do bebê em casos de fissuras labiais. Essa bandagem também é indicada por facilitar o posicionamento do lábio no crescimento facial até o momento da cirurgia, facilitando o transoperatório.

 

Podemos dizer que a sucção é o início do tratamento fonoaudiológico.

 

Não podemos esquecer que o ato de sucção, faz com que haja aumento no vínculo entre mãe e bebê, é a expressão do amor materno, essa cumplicidade acontece ainda nos primeiros dias de vida.

 

Com a alteração da anatomia da face, há maior risco de bebês e crianças aspirarem o alimento, provocando infecções como pneumonias e otites. As otites podem causar prejuízos no desenvolvimento da audição, fala e linguagem. Com as corretas orientações, esse risco é minimizado e o desenvolvimento do bebê acontece sem grandes problemas.

 

O FONOAUDIÓLOGO também orienta sobre sequência de visitas periódicas ao consultório (normalmente mensais no primeiro ano de vida) para prevenção de alterações de alimentação, audição, fala e linguagem.  Orientações preventivas conforme a criança vai se desenvolvendo, auxiliam para que o bebê seja alimentado adequadamente, tenha um desenvolvimento de linguagem, psicológico e motor normal, promove a maturação das estruturas orofaciais, juntamente com um bom padrão da fala.  Avaliações de rotina são mantidas. A introdução de exercícios preventivos de alterações de fala, no momento adequado, e orientações para estimulação da linguagem, minimizam a necessidade de realizar sessões de fonoterapia semanal por um longo período.

 

O FONOAUDIÓLOGO também tem um papel importante nos momentos pré e pós-operatórios.

Nas consultas pré-operatórias, conversamos sobre alimentação, utensílios que podem ou não ser utilizados, hábitos orais que devem ser retirados para que o bebê tenha maior conforto nesse momento tão frágil.

Já no pós-operatório, são realizadas sessões de laserterapia, drenagem linfática e adaptações da alimentação, caso sejam necessárias. Com a evolução do pós-operatório, são indicadas manipulações das cicatrizes e exercícios funcionais para manutenção das funções envolvidas.

 

O acompanhamento FONOAUDIOLOGICO ideal está descrito na figura abaixo.

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