
Aversão e Seletividade Alimentar
na Criança com Anomalia Craniofacial

A INTRODUÇÃO ALIMENTAR complementar inicia-se no bebê normalmente aos 6 meses de idade.
Algumas crianças experimentam uma perturbação nesse momento, apresentando dificuldades alimentares, ou por vezes apresentando AVERSÃO e/ou SELETIVIDADE ALIMENTAR.
Essas perturbações podem durar bastante tempo, prejudicando o desenvolvimento global da criança e interação social.
Podem ocorrer, devido à dificuldades físicas - orais ou gastrointestinais (causando dor, incômodo ou desconforto durante ou após a alimentação) -, sensoriais e estruturais e/ou nas habilidades e oportunidades oferecidas pelo ambiente.
Bebês que passaram por períodos de hospitalização com excessivos procedimentos, os neuropatas, os prematuros, os autistas, entre outros, podem apresentar maior risco de desenvolver dificuldades alimentares.
A AVERSÃO ALIMENTAR consiste na recusa a provar ou comer um alimento específico ou recusar provar qualquer alimento. Pode surgir após uma experiência negativa, incluindo doenças, traumas ou engasgo, que se generaliza para medo ou ansiedade ao redor dos alimentos.
A SELETIVIDADE ALIMENTAR diz respeito à prática de comer apenas alguns alimentos repetidamente. Há diminuição da variedade e quantidade de alimentos aceitos, consumindo, tipicamente, 30 ou mais alimentos.
Essas crianças toleram apresentação de novos alimentos no prato, não entanto não comem. São capazes de tocar ou provar os alimentos, embora apresentem resistência para isso.
Frequentemente, essas crianças selecionam um determinado alimento para comer por um tempo, que geralmente variam após algumas semanas ou meses.
Essas crianças participam das refeições em família, sem grandes dificuldades.
A criança seletiva manifesta a tríade: recusa alimentar de novos alimentos, pouco apetite e desinteresse pelo alimento; ficando com sua dieta restrita a poucas opções de alimentos, geralmente carboidratos, alimentos ricos em açúcar e os processados, normalmente com grande recusa a frutas, legumes e verduras.
A DIFICULDADE ALIMENTAR consiste na aceitação restrita ou com pouca variedade, geralmente menos de 20 alimentos. Normalmente apresentam um certo padrão de aceitação de alimentos, associadas a propriedades sensoriais do alimento (por exemplo, somente aceita alimentos crocantes, tendo preferência por salgadinhos). Essas crianças podem recusar categorias inteiras de alimentos, seja pelo tipo de textura, sabor, aparência ou temperatura (não aceita pedaços, purês, ou alimentos salgados, ou alimentos frios) ou pelo valor nutricional (não aceita frutas ou proteínas).
O diferencial é que no momento da oferta essas crianças apresentam comportamento de fuga, luta ou medo quando os alimentos novos são apresentados, não tolerando tocá-los ou por vezes vê-los.
Essas crianças apresentam rituais para comer, recusando diferentes formas de apresentação dos mesmos alimentos, por exemplo, recusando o biscoito que tem preferência só por ser de outra marca ou oferecido em outro prato, que não é o habitual.
Para aceitação de novos alimentos, requerem oferta e apresentação de mais de 25 vezes do alimento.
A participação da mãe e de outros membros da família como pais, irmão, avós e cuidadores no processo da alimentação da criança é fundamental.
As refeições devem acontecer de forma regular e em família, com todos reunidos à mesa de forma tranquila e prazerosa para que as crianças possam observar outras pessoas consumindo uma variedade de alimentos.
É importante que a criança veja a diversidade de opções e entenda que cada alimento tem com suas cores, texturas, crocância, temperatura, cheiro e aromas e trazem sensações diferentes para aprender a lidar com suas preferências.
Pela complexidade da AVERSÃO, SELETIVIDADE E DIFICULDADES ALIMENTARES, não podem ser tratadas apenas como uma questão comportamental. Cada caso tem suas peculiaridades, requer orientação individualizada, segundo as características específicas do paciente, da família e do meio.
Quando a situação gera danos físicos (afetando o crescimento, por exemplo), emocionais e sociais, seja para a criança ou para a família, é preciso uma análise multidisciplinar. Além do pediatra, especialistas como nutricionistas, psicólogos, terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos podem ajudar no processo.
O Papel do Fonoaudiólogo:
O FONOAUDIÓLOGO é o profissional que pode auxiliar na condução multidisciplinar do diagnóstico por meio de abordagens de intervenção amplas e integrativas. Entender as questões sensoriais e psicológicas envolvidas na dificuldade alimentar, a fisiologia da deglutição, as habilidades motoras e sensibilidades orais do processo alimentar, o conhecimento de patologias orgânicas (refluxo gastroesofágico, esofagites, alergias alimentares e outras) credenciam o FONOAUDIÓLOGO para o correto encaminhamento no tempo correto para que o tratamento tenha mais êxito.
Uma série de atitudes podem prejudicar o correto desenvolvimento da boa alimentação:
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O uso de distrações para fazer a criança comer que prejudicam as percepções dos sinais internos de fome e saciedade da criança;
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Utilização de alimentos como forma de recompensa, principalmente doce e guloseimas que podem ficar supervalorizados e levar a criança a querer que estejam presentes em todas as refeições;
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Pressão para comer determinada coisa é prejudicial. O ideal é tentar em várias ocasiões fazer a oferta;
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Insistir, enganar, camuflar, forçar ou distraia a criança para que coma outros alimentos que não são de sua preferência propiciam um clima de desconfiança e batalha durante as refeições;
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Aceitar ou acostumar-se com a restrição do cardápio de seu filho, facilitam o processo. Continue a oferecer novos alimentos. Seja criativo! Corte em rodelas, cubinhos, tirinhas, estrelinhas, cozinhe, asse, ofereça no espeto, no palito, em purê, cru, ralado; enfim: invente, mas ofereça novas possibilidades de experimentação.
Fazer uma criança comer bem e saudável requer um investimento diário e muitas vezes cansativo, mas que vai trazer benefícios para uma vida inteira de saúde, disposição e até mesmo como exemplo de alimentação para outras crianças e adultos que estão próximos.
Se seu filho tem uma dieta restrita a uma quantidade limitada de alimentos, como feijão, arroz, batata, carne de gado e guloseimas ou recusa-se a provar e comer novos alimentos que estão presentes no dia-a-dia da alimentação da família, como frutas, sucos, e legumes talvez seja hora de procurar ajuda profissional.
Quanto mais cedo será melhor, pois uma vez o hábito incorporado, ele será levado para uma vida inteira, fazendo dele um adulto que não terá uma alimentação saudável e estará fechado a experimentar todos as cores e sabores que o mundo oferece.
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